Capoeira se Torna Patrimônico Cultural
“O pontapé da capoeira é um aperto de mão”, já diz a letra de um canto conhecido entre os capoeiristas. Na tarde desta terça-feira, 15, o pontapé de mestres e alunos de capoeira de Salvador e outros lugares do País foi certeiro e atingiu em cheio um objetivo há muito buscado: o reconhecimento.
E atingiu como um aperto de mão que uniu a história à criatividade e perseverança populares. O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reuniu-se no Palácio Rio Branco, na Praça Municipal, e aprovou a proposta de registro da capoeira como patrimônio cultural do Brasil.
A decisão alça a dança / luta / jogo / esporte – como queiram – a um patamar importante para a preservação daquela que é uma das mais representativas heranças do povo negro para a formação da cultura da Bahia e do Brasil. Com o registro, cabe ao governo, a partir de agora, elaborar projetos e políticas públicas que envolvam ações necessárias para a continuidade das rodas de capoeira e a valorização dos mestres, responsáveis diretos pela perpetuação dos ensinamentos que têm em mestre Bimba e mestre Pastinha seus maiores expoentes.
Os mestres atuais, também ligados a uma corrente de aprendizado que vem daqueles, sorriem quando o assunto é a aprovação do registro, mas fazem ressalvas quando se trata da execução prática de ações. “Espero que não fiquem no papel os planos para a capoeira a partir desta decisão tão importante. Veio em um bom momento, já que no exterior tem gente muito interessada em se apropriar de uma bem que é nosso”, afirma mestre Boa Gente, há 40 anos no gingado das rodas de capoeira.
Mestre Curió, 71 anos, um dos mais reconhecidos da atualidade, conta as dificuldades que passa para poder disseminar os ensinamentos. “Nós sofremos muito preconceito nos aeroportos mundo afora. Os estrangeiros nos valorizam muito mais do que o governo brasileiro. Espero que, com essa decisão, isso mude”, diz.
150 países – O governador Jaques Wagner, presente na cerimônia, também destacou a importância de valorizar os mestres. “Não houve nenhuma grande empresa ou instituição que foi a divulgadora oficial da capoeira. Isso foi um trabalho passo-a-passo dos mestres, legalizado pela vontade das pessoas. Hoje, a capoeira está em mais de 150 países”, afirmou. Na mesma sintonia, o capoeirista Cafuné, aluno de mestre Bimba, arrematou: “A capoeira foi o maior embaixador do Brasil no mundo todo”.
O ministro interino da cultura, Juca Ferreira, que foi homenageado dentro de uma roda de capoeiristas com uma charge em que aparece ao lado do ministro Gilberto Gil, disse que o passo do reconhecimento aproxima a sociedade da democracia racial, valorizando uma manifestação tipicamente negra, mas que hoje já tem dimensões internacionais. “O passo agora é garantir que os mestres possam ter os seus saberes reconhecidos e repassá-los em escolas e universidades Brasil afora”, afirmou.
O plano de salvaguarda da capoeira inclui o reconhecimento do notório saber dos mestres e planos de previdência especial para os mais velhos; um programa de incentivo no mundo; a criação de um centro nacional de referência da capoeira e outras ações. “O registro significa o reconhecimento da diversidade do patrimônio histórico brasileiro e também uma reparação desta prática, que foi perseguida em anos anteriores pelo próprio Estado”, afirmou o presidente do Iphan, Luiz Fernando Almeida.
quarta-feira, 16 de julho de 2008
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