sábado, 22 de março de 2008


Criar um site ou blog mostrando sua vida ou produzir um pequeno vídeo caseiro e colocá-lo na web são hoje práticas mais do que comuns para a maioria dos jovens das grandes cidades brasileiras. Mas e o que diríamos se isso fosse feito por blogueiros e videomakers de comunidades indígenas da Amazônia ou do Canadá? Pois são essas experiências transformadoras possibilitadas pelas novas tecnologias da comunicação que serão apresentadas na segunda edição do Mídias Nativas, seminário que ocorrerá em São Paulo entre os dias 25 e 27 de março.

No evento, idealizado pelo Centro de Pesquisa da Opinião Pública em Contextos Digitais (Cepop/Atopos) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, membros de etnias como guaranis, xavantes e terenas compartilharão suas experiências midiáticas, que passam pela publicação de livros, produção de programas de rádio dentro das aldeias e chegam à produção digital mais explícita, como CDs, sites, portais e blogs. Também estarão presentes representantes de nativos do Canadá, onde projetos similares foram desenvolvidos pelos povos algonquines e atikamekw.

“O que está acontecendo hoje é uma revolução. É o poder do clique”, define Massimo di Felice, professor da ECA e um dos organizadores do encontro. Para ele, as novas tecnologias comunicativas digitais representam uma experiência inédita para populações antes “invisíveis”, como os nativos: a de serem protagonistas de sua própria história. “Por 500 e tantos anos, os índios no Brasil foram objeto de políticas, por parte de governos, a FUNAI, ONGs. Hoje, com a ajuda da internet, eles tem a oportunidade de fazer diplomacia direta, sem a intermediação dos órgãos e entidades que os tutelavam. Eles mesmo divulgam seus textos, sua cultura, e entram em contato com organismos internacionais, por exemplo”.

Populações indígenas e jovens da periferia
No primeiro Mídias Nativas, que ocorreu em 2006, vários textos de autores indígenas então apresentados foram reunidos e publicados na Itália, na forma do livro Indiografia. Esta segunda edição do evento ampliou essa questão dos povos indígenas também para os jovens moradores das periferias das grandes cidades brasileiras, como Ronaldo Costa e Elieser Santos. Eles criaram o Canal do Motoboy, diário virtual onde os próprios motociclistas escrevem e publicam fotos geradas por celulares sobre o seu dia-a-dia no meio do caótico trânsito paulistano.

Para Di Felice, esse é um sinal claro de que o protagonismo eletrônico que está modificando as populações indígenas é um fato mundial. “Hoje, qualquer indivíduo pode produzir o próprio conteúdo e disponibilizá-lo on line para o mundo inteiro. Isso inverte os vários modelos da comunicação clássica que separavam claramente um emissor, o ‘dono’ da informação, dos receptores”, explica Massimo.

Além das mudanças na cultura comunicativa, o professor também aponta para uma mudança qualitativa da cidadania. A web, segundo ele, possibilita que as pessoas que vivam em uma mesma localidade se conheçam, se organizem e, sobretudo, criem formas de agir sobre o meio em que vivem. “A cultura digital está promovendo um ativismo, com implicações, eu diria, explosivas para a política. As pessoas estão passando a ter uma relação de ação direta sobre seu território, sem precisar passar pelas formas tradicionais de autoridade. É a produção de uma nova forma de cidadania, mais colaborativa e participativa”, define.

Veja um dos vídeos do evento:



Serviço
O evento Mídias Nativas tem entrada gratuita, porém é necessário se inscrever pelo site. As reuniões do dia 25 serão no Anfiteatro do Departamento de História e Geografia da USP, que fica na Av. Profº Lineu Prestes, 338, Cidade Universitária. Já as mostras dos dias 26 e 27 serão no Centro Cultural Vergueiro, que se localiza na rua Vergueiro, 1000, Paraíso, ao lado da estação Vergueiro do metrô.

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